Mistérios no oceano: predador gigante devora tubarão-grávido

Um evento chocante nas profundezas do oceano de Cape Cod, Massachusetts, intrigou cientistas que estudam a vida marinha. Uma fêmea grávida de tubarão-sardo (Lamna nasus), que foi marcada com dispositivos de monitoramento, acabou sendo devorada por algo muito maior.

A investigação aponta para dois suspeitos: o tubarão-branco (Carcharodon carcharias) e o tubarão-mako (Isurus oxyrinchus), ambos conhecidos por suas habilidades predatórias. Esse evento marca o primeiro caso documentado de predação de um tubarão-sardo, uma espécie em risco de extinção.

Um mistério tem intrigado pesquisadores. O que poderia ter escolhido como sua presa nada mais do que um tubarão?
Um mistério tem intrigado pesquisadores. O que poderia ter escolhido como sua presa nada mais do que um tubarão? – foto: edição nossa.

A história começa em 2020

Em 2020 e 2022, pesquisadores marcaram diversos tubarões-sardo com dispositivos de rastreamento por satélite.

Esses dispositivos, conhecidos como PSATs (Pop-up Satellite Archival Tags), são projetados para se desprender do animal após um tempo e flutuar até a superfície, transmitindo dados de profundidade, temperatura e localização.

Entre os marcados estava uma fêmea prenhe, com cerca de 2,2 metros de comprimento. O objetivo era monitorar os movimentos desses tubarões durante o período de gestação. No entanto, após 158 dias, a etiqueta dela emergiu nas águas das Bermudas, o que indicava que algo inesperado havia acontecido.

Dados revelam mistério do tubarão

Durante cinco meses, os dados registrados pela etiqueta mostraram que a fêmea estava se movendo de forma constante. Porém, em março de 2021, os registros de temperatura subitamente se estabilizaram em 22°C, algo incomum para um tubarão em movimento livre.

Além disso, a profundidade registrada aumentou drasticamente. Para os cientistas, essas mudanças indicavam que a tubarão havia sido predada por um animal muito maior.

De acordo com a Dra. Brooke Anderson, principal pesquisadora do estudo e ex-aluna da Universidade Estadual do Arizona, quando um animal marcado é comido, os dados mostram mudanças típicas de predação.

A temperatura do ambiente se torna estável, indicando que a etiqueta está agora dentro do estômago do predador, em vez de medir a temperatura da água. Esse foi o caso com a fêmea de tubarão-sardo.

Veja o vídeo:

Quem poderia ter feito isso?

Com a investigação em andamento, dois suspeitos principais surgiram: o temível tubarão-branco e o veloz tubarão-mako. O comportamento registrado pelos dados do PSAT sugeria que o predador era endotérmico, ou seja, de sangue quente, como ambos os tubarões.

ontudo, as evidências apontavam mais fortemente para o tubarão-branco, já que o padrão de profundidade consistente nos dados não correspondia ao mergulho rápido e agressivo característico do tubarão-mako.

População de tubarões

O evento de predação não apenas marca um acontecimento científico raro, mas também traz preocupações sobre a conservação dos tubarões-sardo. Essa espécie, que já enfrenta declínio populacional devido à pesca excessiva e à degradação do habitat, tem uma taxa reprodutiva lenta.

A perda de uma fêmea grávida representa um duro golpe para a espécie, já que, além da mãe, todos os seus filhotes em desenvolvimento também foram eliminados de uma só vez.

Anderson destacou a gravidade da situação ao afirmar: “Em um instante, a população de tubarões perdeu não só uma fêmea reprodutiva, mas também seus filhotes. Essa é uma perda dupla, que afeta significativamente a recuperação da espécie.”

Veja hoje mesmo:

Predação de tubarão: fenômeno raro e desconhecido

Embora a predação entre tubarões não seja um fenômeno amplamente documentado, eventos como esse podem se tornar mais frequentes com o avanço das tecnologias de rastreamento marinho.

As etiquetas PSAT, por exemplo, permitem aos cientistas coletar dados em tempo real sobre o comportamento dos predadores e suas presas, fornecendo informações valiosas sobre as interações entre espécies.

O que torna esse caso particularmente fascinante é o fato de que, até agora, os tubarões-sardo não eram vistos como uma presa comum para predadores maiores. No entanto, em ambientes onde alimentos são escassos, como em áreas profundas do oceano, um tubarão-grávido pode se tornar um alvo tentador para predadores como o tubarão-branco.

Um mistério em aberto

Embora o caso tenha levantado diversas questões sobre o comportamento predatório dos grandes tubarões, uma coisa é certa: a investigação trouxe à tona uma descoberta inesperada e perturbadora.

A predação de um tubarão-sardo grávido não apenas revela um lado pouco explorado da vida marinha, mas também adiciona uma nova camada de desafios para a preservação dessa espécie ameaçada.

Conforme novas tecnologias continuarem a evoluir, espera-se que eventos como esse sejam documentados com mais frequência, oferecendo aos cientistas uma visão mais detalhada das complexas interações entre as espécies marinhas.

Até lá, o mistério sobre quem foi o verdadeiro culpado pela predação da tubarão grávida ainda permanece, mas as evidências apontam fortemente para o temível tubarão-branco.