Qual é o PERIGO de uma Live NPC do TikTok, afinal?

Perigos desta prática no TikTok – O fenômeno das lives NPC (Non Playable Characters, ou Personagens Não Jogáveis, em português) está indo muito além das telas e avança para um campo minado de questões éticas e sociais. O que começou como uma febre de interações virtuais está ganhando contornos preocupantes, colocando em xeque até mesmo a postura das plataformas de mídia social.

Qual é o PERIGO de uma Live NPC do TikTok, afinal?
A onda de lives NPC no TikTok tem preocupado especialistas. Foto: divulgação

Live NPC no TikTok

Em meados de julho, PinkyDoll, uma influenciadora canadense do TikTok, se tornou pioneira nesse formato de interação. Em seus vídeos, ela fazia o papel de uma personagem virtual que reagia a presentes e recompensas recebidos virtualmente. Um dos vídeos mais populares, intitulado “Ice Cream So Good”, chegou a atingir a impressionante marca de mais de 100 milhões de visualizações. A influenciadora digital recebia “sorvetes virtuais” como presentes e reagia com a expressão que deu título ao vídeo. Além do imenso sucesso, as lives tornaram-se uma lucrativa fonte de renda para alguns criadores de conteúdo, com ganhos estimados em até R$ 50 mil por dia.

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O TikTok, por sua vez, se manifestou afirmando que “apoia a liberdade de expressão e a diversidade de conteúdo na plataforma”. Segundo a empresa, o compromisso é em “fornecer aos nossos usuários uma experiência segura e inclusiva”. No entanto, essa posição tem sido questionada por diversos especialistas. Ana Paula Passarelli, cofundadora e COO da Brunch, uma empresa focada em economia criativa, considera que o ganho financeiro rápido é a principal preocupação. “Quando as pessoas pagam para assistir a essas exposições, é preciso olhar com cuidado para as justificativas, porque isso pode ser entendido como uma forma de humilhação domesticada, que não deixa de ser um tipo de violência”, alerta.

Issaaf Karhawi, pesquisadora em comunicação digital do Com+, núcleo de pesquisa de comunicação e mídias digitais da USP, também levanta outras problemáticas envolvendo o fenômeno. De acordo com ela, a “fetichização” de corpos femininos e a sexualização de meninas são aspectos preocupantes que vão além das questões de monetização. Karhawi observa que estamos testemunhando novos acordos morais alinhados às demandas das plataformas digitais e às promessas de dinheiro fácil em um contexto de crise econômica.

Outras tendências

Além do fenômeno das lives NPC, outras tendências estão moldando as redes sociais. Uma delas é a chamada “social health”, ou “saúde social”, focada na promoção de uma vida mais realista e sem filtros, como uma resposta ao aumento dos níveis de ansiedade, principalmente entre os jovens. Outra mudança significativa é a consolidação das plataformas como espaços de consumo de conteúdo, em vez de simples conexão entre pessoas. Isso está em sintonia com a expansão da “economia dos criadores”, onde influenciadores têm um impacto significativo nas decisões de compra dos usuários.

Além disso, Ricardo Cavallini, da Singularity e autor do livro “Para os seus próximos mil anos: um manual para as profissões que ainda não existem”, acredita que a popularidade desse tipo de conteúdo pode ser negativa para a imagem do TikTok. “Principalmente em um momento em que alguns países estão preocupados com os efeitos da rede para crianças e adolescentes”, ele destaca.

Em um cenário de constantes mudanças e evoluções nas mídias sociais, as plataformas e os criadores de conteúdo têm o desafio de conciliar entretenimento, engajamento e responsabilidade social. O debate sobre as lives NPC é apenas a ponta do iceberg de uma série de questões éticas e morais que devem ser enfrentadas em um futuro próximo.

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