Carne mais cara: descubra por que o preço não para de subir

Ciclo pecuário, exportações, seca e aumento da demanda interna impulsionam o preço da carne no Brasil; entenda o cenário atual

O preço da carne no Brasil segue em alta e preocupa tanto consumidores quanto especialistas em economia.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (ibge.gov.br), o aumento acumulado nos últimos 12 meses chegou a 15,43%, impactando diretamente o bolso dos brasileiros. Em novembro, a alta mensal foi de 8,02%, a maior desde 2020.

Essa escalada nos preços reflete uma combinação de fatores, como mudanças no ciclo pecuário, aumento nas exportações e condições climáticas desfavoráveis. Além disso, a renda mais elevada de parte da população tem mantido a demanda interna aquecida.

Essas dinâmicas apontam que os preços devem permanecer altos em 2025, com possibilidade de estabilização apenas nos próximos anos.

Carne mais cara descubra por que o preço não para de subir
Preço da carne reflete dinâmica dos mercados interno e externo e das mudanças climáticas – Crédito: webandi / Pixabay

Ciclo pecuário influencia os preços da carne

O ciclo pecuário é um dos principais fatores que influenciam a oferta e o preço da carne bovina. Esse ciclo se alterna entre períodos de alta e baixa, conforme a dinâmica de reprodução e abate dos animais.

  1. Alta do ciclo: Quando os preços do bezerro são elevados, os pecuaristas tendem a manter as vacas para reprodução, reduzindo os abates. Isso eleva o preço da carne devido à menor oferta.
  2. Baixa do ciclo: Durante períodos de baixa nos preços do bezerro, o abate de fêmeas aumenta, ampliando a oferta e reduzindo os preços.

Atualmente, o Brasil vive um momento de alta do ciclo. Nos últimos dois anos, o número de abates foi elevado, reduzindo o rebanho disponível. O resultado é a escassez de bois prontos para abate e a valorização do preço do bezerro.

Essa dinâmica deve continuar pressionando os preços da carne até 2026.

Aproveite e confira também:

Seca e queimadas afetam a produção de pastos

As mudanças climáticas também desempenham um papel crucial no aumento dos preços da carne. A seca severa que atingiu diversas regiões do Brasil em 2024 prejudicou a formação de pastos, principal alimento do gado.

  • Menor pastagem: Com a escassez de alimento natural, os pecuaristas recorrem ao confinamento dos animais, que utiliza ração. Esse método, embora eficiente, tem custos elevados, o que impacta diretamente o preço final da carne.
  • Queimadas: Além da seca, incêndios florestais reduziram ainda mais a disponibilidade de pastos, agravando a situação no campo.

A falta de investimento em suplementação durante o período de seca também contribuiu para a redução do peso dos animais. Isso explica a menor quantidade de gado disponível para o mercado interno.

Exportações recordes e menor oferta interna

O Brasil é o maior exportador de carne bovina do mundo, e as exportações seguem em ritmo recorde.

Dados da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne – Abiec (abiec.com.br) mostram que, entre janeiro e outubro de 2024, foram exportadas 2,4 milhões de toneladas de carne, um aumento de 30% em relação ao ano anterior.

Os principais fatores para esse crescimento incluem:

  • Alta demanda externa: Países como China e Estados Unidos enfrentam dificuldades em suas produções internas, aumentando a procura pela carne brasileira.
  • Câmbio favorável: O dólar elevado estimula as exportações, pois torna os produtos brasileiros mais competitivos no mercado internacional.

Embora o mercado externo seja benéfico para o agronegócio, ele reduz a oferta de carne no Brasil, pressionando os preços no mercado interno.

Renda maior e consumo aquecido

No mercado interno, o aumento da renda disponível também tem impulsionado a demanda por carne. Fatores como a valorização do salário mínimo, a redução do desemprego e o reajuste de benefícios sociais como o Bolsa Família ampliaram o poder de compra da população.

Além disso, o pagamento do 13º salário e as festas de fim de ano aumentam a procura pela proteína bovina. Como a carne é uma preferência nacional, a alta demanda mantém os preços elevados, mesmo com a oferta restrita.

Tendências para 2025 e possíveis alternativas

Especialistas apontam que a alta no preço da carne deve se manter ao longo de 2025, com possibilidade de estabilização apenas em 2026. Isso se deve ao longo ciclo de produção, que inclui o tempo necessário para o nascimento, desmame e engorda dos bezerros.

Enquanto isso, consumidores buscam alternativas para reduzir o impacto no orçamento. Entre as opções estão:

  • Proteínas mais acessíveis: Frango, ovos e peixes, como sardinha, são alternativas populares e nutritivas.
  • Vegetais ricos em proteínas: Alimentos como lentilha, grão-de-bico, tofu e quinoa podem complementar a dieta de forma saudável e econômica.

O que esperar para o futuro?

O preço da carne reflete não apenas a dinâmica do mercado interno, mas também as complexidades do comércio internacional e das mudanças climáticas. Com exportações em alta e uma oferta interna reduzida, os consumidores enfrentam um cenário de preços elevados a curto prazo.

A longo prazo, medidas como o investimento em tecnologias de produção e a diversificação do consumo podem ajudar a mitigar os impactos. Até lá, a recomendação é planejar as compras e explorar alternativas alimentares que mantenham a qualidade nutricional sem comprometer o orçamento.