Amazônia está “fervendo”! Mais de 100 botos morrem pelo calor

Desde o início da seca que atinge a Amazônia, cerca de 110 animais, incluindo botos e tucuxis, foram vítimas fatais, na área de Tefé, situada no Médio Solimões. Este número alarmante representa cerca de 5% da população destas espécies, de acordo com informações do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, organização social vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.

A causa exata dessas mortes ainda permanece desconhecida, mas cientistas acreditam que elas estejam relacionadas às altas temperaturas das águas, que chegou próximo a 40ºC! Continue lendo e entenda o motivo para a preocupação dos especialistas.

Pesquisadora faz análise em botos mortos em lago de Tefé, na Amazônia. Para o ICMBio, a seca prolongada e as altas temperaturas na região podem ter causado as mortes dos animais Foto: MIGUEL MONTEIRO/INSTITUTO MAMIRAUÁ 

Amazônia enfrenta seca e altas temperaturas

A Amazônia enfrenta uma seca extrema, que tem reduzido o nível dos rios e gerado dificuldades no fornecimento de água e no transporte na região. A estiagem deste ano é exacerbada pelo fenômeno climático El Niño, que se caracteriza pelo aquecimento das águas superficiais do Oceano Pacífico, na região do Equador. O fenômeno perturba os padrões normais de circulação das correntes marítimas e das massas de ar, provocando efeitos variados em todo o mundo.

A pesquisadora Miriam Marmontel, do Instituto Mamirauá, observa: “Minha suspeita é que algo está afetando a qualidade da água, claramente relacionado à seca extrema, à baixa profundidade dos rios e, consequentemente, ao aumento da temperatura da água. A temperatura média histórica da água no Lago do Tefé é de 32 graus, enquanto na quinta-feira registramos 40ºC a uma profundidade de até três metros.”

Equipes de resgate e pesquisadores estão no local

Equipes de resgate de cetáceos vivos chegaram a Tefé durante o fim de semana, e um barco com uma piscina especial está abrigando os animais resgatados. Eles permanecerão lá até que os resultados das análises sejam concluídos.

Miriam acrescenta: “Se houver uma infecção envolvida, seria arriscado soltar os animais de volta no rio Solimões, já que isto poderia propagar a infecção para o restante da população. Parece ser um evento isolado no Lago Tefé, sem relatos de ocorrências semelhantes nas cidades vizinhas.”

Como especialista em mamíferos aquáticos, Miriam estima que a população de botos e tucuxis no Lago Tefé seja de aproximadamente, 900 e 500 animais, respectivamente. Ela tem estudado os animais da Amazônia por três décadas e compartilha sua preocupação: “Estamos enfrentando uma situação muito preocupante e séria com essa mortalidade incomum de botos amazônicos no Lago Tefé. Entre sábado, 24, e segunda-feira, 2, perdemos 110 animais, incluindo botos-vermelhos e tucuxis.”

A investigação sobre as causas das mortes dos botos será conduzida pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão vinculado ao Ministério do Meio Ambiente. O ICMBio informou que está seguindo protocolos sanitários rigorosos para o manejo das carcaças e está empenhado em identificar as causas das mortes para proteger essas espécies.

Condições climáticas na Amazônia são preocupantes

Até o momento, 18 municípios no Amazonas estão em estado de emergência, enquanto outros 37 estão em alerta e cinco declararam situação de atenção, de acordo com a Defesa Civil do Estado.

João Valsecchi, diretor do Instituto Mamirauá, ressalta que a seca também tem causado dificuldades para a população, incluindo problemas de mobilidade, restrição de acesso a diversas áreas e aumento dos custos de vida.

Ele afirma: “Escolas estão fechando, as rotas de barcos estão sendo suspensas, e os preços dos produtos estão subindo nas cidades, principalmente no interior. De forma excepcional este ano, estamos testemunhando a morte de peixes e botos no Lago Tefé.”

Em uma entrevista recente ao programa Viva Maria, da Rádio Nacional da Amazônia, que faz parte da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), Miriam enfatizou que esses animais desempenham um papel crucial como indicadores da qualidade da água e são os primeiros a serem afetados por alterações no ambiente.

Ela também alertou para a necessidade de atenção contínua: “Eles nos deram um aviso, e agora precisamos estar alertas. Se não mudarmos nossos hábitos, esses eventos continuarão, com mais aquecimento global e mudanças nos padrões climáticos.”