Empresa quer escanear a íris de todos para diferenciar humanos de robôs! Ela paga R$ 250 para cada um

A Worldcoin, uma empresa que propõe o escaneamento da íris em troca de uma recompensa monetária, tem suscitado polêmicas e preocupações à medida que busca criar um “passaporte digital” através do registro de dados biométricos de bilhões de pessoas em todo o mundo. Entenda, logo abaixo, como funciona a polêmica invenção.

A Worldcoin, uma organização que propõe o escaneamento da íris em troca de uma recompensa monetária, tem suscitado polêmicas e preocupações à medida que busca criar um
WoldCoin causa polêmica ao anunciar orb que scaneia íris humana para coletar dados. | Foto: Divulgação / Woldcoin

Inovação polêmica

A Worldcoin, uma organização de criptomoedas, lançou um produto com o escaneamento da íris em troca de uma recompensa monetária. A ação tem levantado polêmicas e preocupações após a empresa divulgar que o orbe (um objeto esférico) tem o objetivo de criar um “passaporte digital” através do registro de dados biométricos de bilhões de pessoas em todo o mundo.

A iniciativa foi lançada por Sam Altman, CEO da empresa por trás do robô ChatGPT, com o objetivo de distinguir humanos de inteligências artificiais. Entretanto, essa proposta tem levantado questões significativas e gerado reações por parte de reguladores internacionais.

O projeto ofereceu temporariamente a possibilidade de escaneamento de íris em três locais em São Paulo, visando a criação de um “passaporte digital” denominado World ID, que transforma o registro da íris em uma sequência numérica única. Além disso, a organização introduziu o Token Worldcoin (WLD), uma criptomoeda, como recompensa para os participantes. O projeto também trouxe o World App, um aplicativo que permitiria transações com a criptomoeda.

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Público e órgãos regulatórios preocupados

No entanto, essa proposta inovadora gerou preocupações de natureza ética e regulatória. Reguladores em diferentes partes do mundo expressaram suas preocupações, como o governo do Quênia, que ordenou a suspensão do projeto e confiscou orbes, após centenas de milhares de inscrições e órgãos regulatórios na França, Alemanha e Reino Unido examinando a iniciativa.

Dois especialistas em privacidade e tecnologia, Rafael Zanatta, diretor do Data Privacy Brasil, e Nina da Hora, cientista da computação e diretora do Instituto da Hora, destacaram a falta de transparência quanto ao tratamento dos dados dos usuários pela Worldcoin. Essa falta de clareza quanto ao destino dos dados coletados gera inquietações significativas.

O projeto afirma que a foto da íris é convertida em um código numérico, que é utilizado para confirmar a identidade das pessoas e diferenciá-las de robôs. No entanto, as implicações mais amplas e o potencial uso indevido desses dados permanecem obscuros.

Em destaque, a Worldcoin iris scanner, que levanta polêmicas e protestos em alguns países sobre a captura de dados pessoais. | Foto: Divulgação / Worldcoin

Enquanto a Worldcoin afirma que a foto da íris é apagada após a conversão em código numérico, as preocupações sobre como os dados serão tratados a longo prazo persistem. A organização sugere que essa infraestrutura poderia ser usada em “processos democráticos globais”, além de ser uma potencial ferramenta para a criação de uma renda básica universal. No entanto, a ambiguidade em relação a quem controlaria essas operações levanta questões sobre a accountability e a soberania dos dados biométricos das pessoas.

O que eu ganho com isso?

Em relação à compensação financeira oferecida aos participantes, o projeto concede 25 unidades da WLD para cada íris cadastrada pelo Orbe, com o valor avaliado em aproximadamente R$ 240. Além disso, os usuários teriam direito a 1 WLD (cerca de R$ 9,50) semanalmente por meio do World App, e bonificações adicionais para aqueles que contribuírem para o desenvolvimento e promoção do projeto.

Falta de supervisão

As críticas ao projeto não se restringem apenas às preocupações de privacidade. Especialistas ressaltam que a proposta da Worldcoin, embora não envolva o armazenamento da imagem real da íris, ainda lida com uma sequência numérica que funciona como um dado biométrico sensível. Rafael Zanatta aponta que a questão não é somente a possibilidade de vazamento de dados, mas também a utilização futura desses dados de maneira inesperada e potencialmente danosa. A falta de uma entidade nacional ou internacional que supervisione a Worldcoin acrescenta complexidade à questão.

Nina da Hora ressalta a delicadeza da coleta de dados genéticos, levantando a questão de até que ponto uma organização independente pode legitimamente coletar esses dados em nome da proteção. A Worldcoin argumenta que seu objetivo é proteger as pessoas, mas essa justificativa é questionável quando se trata de invadir a privacidade das pessoas sem consentimento claro.

Brasil promete fiscalização

No Brasil, a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) expressou que eventuais violações à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) serão avaliadas após um processo fiscalizatório. A regulamentação de dados biométricos também está em pauta na Agenda Regulatória da ANPD.

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