AGORA é uma boa hora para financiar imóvel?

Quer financiar um imóvel? A economia brasileira está prestes a sentir o impacto de uma importante decisão tomada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central: a redução da taxa Selic em 0,50 ponto percentual, de 13,75% para 13,25%. Este movimento, observado por muitos como um sinal da mudança de direção na política econômica, tem o potencial de moldar a atividade financeira e comercial no país nos próximos anos.

AGORA é uma boa hora para financiar imóvel?
Muitas pessoas optam por financiar a compra de um imóvel para realizar o sonho da casa própria. Crédito: @jeanedeoliveirafotografia / noticiadamanha.com.br

Momento propício para financiar imóvel

A última vez que uma redução semelhante foi realizada aconteceu em agosto de 2020, um ano marcado por contínuas discussões entre o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. O cerne do debate girava em torno do nível da taxa de juros no Brasil e seus possíveis efeitos sobre a economia.

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Contrariando a previsão de muitos agentes do mercado financeiro, que esperavam um corte de 0,25 p.p, a decisão de reduzir a taxa em 0,50 p.p foi recebida com surpresa. Tal medida vem após um cenário de desaceleração econômica e enfraquecimento da inflação, que reduziu de mais de 12% no acumulado dos últimos 12 meses até abril de 2022 para 3,16% em junho deste ano, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A taxa Selic é o principal instrumento do Banco Central para regular a inflação no país, impactando todas as demais taxas de juros praticadas no mercado. Com a Selic mais alta, o custo dos empréstimos para famílias e empresas aumenta, reduzindo a disponibilidade de recursos para consumo e investimento. Com a Selic em queda, espera-se um efeito contrário.

O mercado financeiro projeta que a Selic continue a cair gradualmente nos próximos meses, atingindo 12% até o final do ano, 9,25% em dezembro de 2024 e 8,75% em 2025, e se estabilizando em 8,5% em 2026, de acordo com o Boletim Focus do Banco Central.

No entanto, as implicações dessa redução de juros para os consumidores brasileiros não são imediatas nem universais. Especialistas da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) afirmam que o corte de 0,50 p.p. na Selic deve ter um impacto quase insignificante nas principais modalidades de crédito utilizadas pelos brasileiros, como cartão de crédito, cheque especial e empréstimos pessoais.

Apesar da redução da Selic, a taxa média de juros para operações de crédito mais comuns, que estava em 126,2% ao ano em julho, deverá cair apenas para 125,2%. Isso ocorre porque as taxas de juros de mercado são compostas por uma série de fatores além da Selic, incluindo impostos embutidos nas taxas de juros, despesas administrativas dos bancos, o risco de inadimplência e a margem líquida da instituição bancária.

Queda dos juros

Entre os empecilhos para uma queda mais significativa dos juros de mercado, está o risco de crédito. Grandes empresas como Americanas, Grupo Petrópolis e Oi entraram recentemente em recuperação judicial, impactando o balanço dos bancos e aumentando o volume de provisões para inadimplência. Além disso, o elevado endividamento e inadimplência das famílias também mantém a percepção de risco elevada, apesar da expectativa de melhora nos próximos meses.

Rachel de Sá, chefe de economia da gestora de recursos Rico Investimentos, destaca que os efeitos das mudanças na Selic geralmente demoram de três a seis meses para serem sentidos no mercado de crédito. Claudia Yoshinaga, coordenadora do Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV), reforça esse ponto, acrescentando que os efeitos da queda dos juros serão mais perceptíveis quando a Selic voltar a patamares de um dígito e a tendência de queda se mantiver ao longo dos meses.

O professor Ajzental da FGV também ressalta a importância de se avaliar os múltiplos fatores que influenciam a decisão de comprar uma propriedade, como as condições do mercado imobiliário, os preços, e a situação financeira individual ou familiar. A taxa de juros é apenas uma parte do quebra-cabeça.

Passando ao impacto mais amplo do corte na Selic, a redução dos juros básicos tem implicações profundas e complexas na economia. De acordo com o IBGE, a inflação vinha desacelerando ao longo dos últimos meses, indo de mais de 12% no acumulado de 12 meses até abril de 2022 para 3,16% em junho deste ano. A diminuição da Selic é uma resposta a esse cenário, na tentativa de estimular a economia em um momento em que o crescimento parece estar perdendo ímpeto.

A relação entre a Selic e a economia como um todo é intrincada e multifacetada. A taxa básica de juros é usada pelo Banco Central para controlar a inflação, e quando a Selic sobe, o crédito fica mais caro, desencorajando o consumo e o investimento. Já quando ela cai, espera-se o efeito contrário.

Agora, o que se pode esperar é uma diminuição gradual da Selic ao longo dos próximos meses, podendo chegar a 12% ao fim deste ano, 9,25% em dezembro de 2024, 8,75% em 2025, e 8,5% em 2026, segundo expectativas divulgadas pelo boletim Focus do Banco Central. Contudo, mesmo após anos de quedas, a Selic não deve cair muito abaixo dos 10%, mantendo o nível de juros do país relativamente elevado.

A pergunta que fica é como essa queda dos juros afetará as principais modalidades de crédito utilizadas pelos consumidores brasileiros, como cartão de crédito, cheque especial, empréstimos pessoais, e financiamento habitacional.

Segundo a Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade), a redução da Selic para 13,25% deve fazer com que a taxa média de juros nas operações de crédito mais comuns recue para 125,2% ao ano, uma variação quase insignificante. Os motivos para essa pequena alteração incluem fatores como impostos compulsórios embutidos nas taxas de juros, custos administrativos dos bancos, riscos de inadimplência, e a margem líquida do banco.

Além disso, o risco de crédito é um dos elementos que pode restringir a queda dos juros de mercado. Em particular, as entradas em recuperação judicial de grandes empresas como Americanas, Grupo Petrópolis, e Oi, têm impactado o balanço dos bancos e aumentado o volume de provisões para inadimplência.

Também é essencial observar a defasagem temporal nos efeitos de variações da Selic. Rachel de Sá, chefe de economia da gestora de recursos Rico Investimentos, lembra que no Brasil, leva-se entre três e seis meses para que as mudanças na Selic sejam sentidas no mercado de crédito.

No campo específico dos financiamentos imobiliários, a queda na Selic pode levar a uma diminuição dos juros, mas essa relação não é linear e o efeito pode levar até três meses para ser percebido. Alberto Ajzental, coordenador do curso de Negócios Imobiliários da FGV, afirma que a compra da casa própria não deve ser feita com uma visão imediatista e a opção de portabilidade, criada em 2013 pelo Banco Central, permite renegociar taxas posteriormente.

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